"Maioral" ou "Vigilância da Terra", na língua Tupi, o Caboclo Tibiriçá viveu entre os botocudos, antes da colonização portuguesa no Brasil. Este nome foi dado a esta tribo pelos próprios colonizadores devido ao hábito de utilizarem botoques de madeira nas orelhas e no lábio inferior da boca como enfeite masculino, dando-lhes uma aparência bastante estranha. Entretanto, os tupi-guaranis os chamavam de tapuias, sendo eles, conhecidos por alguns estudiosos como Aimorés, ou Aymorés.

Viviam em lutas frequentes com os tupinambás e os tupiniquins e, quando os portugueses chegaram no Brasil, não se renderam à escravatura. Mostraram-se rebeldes e travaram muitas lutas sangrentas em defesa de sua liberdade. Alguns historiadores afirmam que eles eram antropófagos e possuíam estatura robusta e alta, sendo que sua pele era mais clara que a dos demais indígenas, devido a sua permanência no interior da selva, onde os raios solares são amenizados.

Vivendo pela Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo, os botocudos usavam as palavras em sons duros e roucos, parecendo que vinham do interior do peito, sendo difícil entendê-los.

As casas, devido às constantes caminhadas dos membros da tribo, eram de rápida feitura, em geral folhas de palmeiras encostadas aos pares; peregrinavam pela floresta e viviam como os outros animais, sem conforto e agasalho. Caçavam com o arco e flecha para se alimentarem e nutriam-se também de frutas silvestres.

Os historiadores divergem sobre os botocudos, enquanto uns dizem que eram belos e esbeltos, outros que eram feios e sujos, muito dessa divergência se deve ao fato de serem caçadores, guerrilheiros e, como não se conseguia dominá-los, eram vistos com temor e antipatia, já que matavam e emboscavam outros humanos. Todavia, tinham um amor entre eles e um senso de proteção bastante apurado para com os membros da tribo. Eram amáveis e carinhosos com os curumins (as crianças), apesar da ferocidade que atacavam aqueles que consideravam como inimigos.

Foi nesta espécie de civilização que nasceu aquele que hoje é o chefe da nossa Umbanda. Ele nos conta que foi destacado da tribo, por sofrer de gigantismo, tendo sido a sua doença interpretada como algo divino e, sendo um deus, deveria ser adorado por todos, mas não poderia viver junto com eles.

Solitário e inseguro, o nosso Tibiriçá foi relegado a um local fixo de moradia ainda muito jovem, enquanto toda a tribo se deslocava constantemente em busca de alimento e melhores condições climáticas. Quando voltavam, levavam-lhe presentes e esposas, mas como ele mesmo comenta, nunca lhe era dada a oportunidade de escolher aquela que mais simpatizava, ou de participar do dia a dia da tribo. Através de rituais próprios, costumavam lhe agradecer pelas vitórias nas guerras, pelas colheitas quando rapidamente criavam alguma lavoura e, obviamente, se punham a sua frente para chorar os seus fracassos e reclamar por melhores dias, deixavam com ele também os elementos doentes para que fossem curados, festejando-o muito quando eles viviam e chorando, gemendo, perguntando por que quando eles morriam.

Segundo Seu Tibiriçá, era um "pesadelo horrível" saber que não fazia nada do que lhe era atribuído e não adiantava dizer que não era um deus. Seu tamanho desproporcional, desde menino, levava os membros da tribo a vê-lo como tal e, por muitas vezes, em seu desespero, chegava às margens do rio mais próximo para chorar e pedir ajuda a natureza, já que, tendo vivido afastado da tribo, nem a cultura do uso das ervas lhe fora passada. Ignorava tudo e, quando se via com um doente, usava a intuição para ajudar, não para passar por deus, mas para fazer alguma coisa pelo moribundo, mesmo com todo o mal-estar que sentia com sua saúde frágil, que o deixava frequentemente com fortes dores de cabeça e fraquezas musculares.

Pouco antes da chegada dos colonizadores, morre Tibiriçá aos 38 anos, vítima de problema cardíaco, sem deixar filhos, porque, como suas esposas não foram escolhidas e nem o escolheram, foram resguardadas e intocadas por ele. Descansou, finalmente, de uma vida repleta de equívocos.

 

Carmelia Heizer - Inspirada por Vovó Catarina